Tradicionalismo x Conservadorismo

8 de Julho de 2019

Saudações, estimado Irmão!
TRADICIONALISMO X CONSERVADORISMO

A primeira questão a esclarecer é que a Maçonaria é tradicionalista e não conservadorista. 
Tal afirmação pode provocar arrepios e picos na pressão arterial em alguns Irmãos. Mas esta é a realidade, se compreendermos do que realmente tratam estes conceitos.
Estudos filosóficos, históricos, sociais e culturais caminham juntos quanto ao reconhecimento do valor da origem, das leis, normas, padrões, comportamentos e conceitos,  que constituem nosso passado, o chamado legado histórico.
A diferença é que o conservadorismo costuma se confrontar com a adequações e inovações da realidade, que, muitas vezes, ocorrem por questões linguísticas, políticas e da própria dinâmica social às quais o indivíduo ou grupo está inserido. 
O tradicionalismo, por outro lado, atua mantendo e perpetuando a essência da tradição, mas está aberto a adequações e inovações no próprio tempo ao qual o indivíduo ou grupo está vivendo.
O tema é extremamente “belicoso” e causa desavenças em Lojas e Potências. Mas, isto faz parte de nossa história. Observe que o nome da Potência Mãe é resultante de uma solução deste conflito: Grande Loja UNIDA da Inglaterra.
A primeira Grande Loja foi fundada em 1717, com o título de Grande Loja de Londres, que se desenvolveu para além da capital e até mesmo além mar, mudando assim seu nome para Grande Loja da Inglaterra (Grande Loja dos Maçons Livres e Aceitos da Inglaterra)
A harmonia foi quebrada quando Samuel Prichard, em 1730, publicou o livro Maçonaria Dissecada, que expunha toques, sinais e palavras restritas aos Maçons. Diante desta profanação, a Grande Loja da Inglaterra resolveu alterar os rituais na tentativa de proteger seus membros de incautos aproveitadores.
Houve grande descontentamento e várias Lojas se desligaram da Grande Loja, tornando-se independentes, pois, apesar da exposição feita por Samuel Preichard, as instruções deveriam permanecer inalteráveis.  
Em 1751, as Lojas Independentes se uniram com outras Lojas, que não eram reconhecidas pela Grande Loja da Inglaterra e fundaram a Grande Loja dos Maçons segundo os Antigos Costumes (Grande Loja dos Maçons Livres e Aceitos da Inglaterra, de acordo com as Antigas Constituições).
Observe também que a denominação “antiga” aparece para qualificar a Potência mais nova (1751) e, de forma provocativa, a designação “moderna” era usada para a Potência fundada em 1717.
Foram mais de 60 anos de brigas e incompreensões entre Irmãos, que estigmatizavam uns aos outros de “Antigos” ou de “Modernos”.
Enfim, em 1813, houve um consenso desencadeado pela proximidade familiar entre os Grão-Mestres das duas Potências. Então eles se uniram baseados no principio de que as 999 Lojas à época trabalhariam sob a ritualística dos “Antigos” e a estrutura administrativa dos “Modernos”.
O que devemos aprender com isto?
Atualmente, as Lojas Maçônicas estão sofrendo uma grande evasão pelo choque entre os “antigos” e os “modernos”. Os novos iniciados pertencem a gerações mais ativas, questionadoras, aguerridas e que procuram propósitos.
Sejamos sinceros, e façamos nossa mea culpa. Quantas reuniões nós assistimos com uma Ordem do Dia sem propósitos?
Quais sãos as diretrizes e a missão da sua Loja como elemento de transformação da sociedade?
Já nos demos conta de que muitos dos nossos novos Irmãos possuem três, quatro ou até dez vezes mais informações do que nós mesmos? 
Que sua formação acadêmica e consciência das mazelas da sociedade, às vezes, nos colocarão em “xeque” se os mantivermos apenas sentados em bancos de madeira, enquanto é lido o ritual?
SE NÓS, OS ANTIGOS, NÃO NOS CONSCIENTIZARMOS DE QUE DEVEMOS COMPREENDER O RITMO E A NECESSIDADE DE RESULTADOS POR PARTE DOS NOVOS IRMÃOS, ASSISTIREMOS A UM INVEVITÁVEL DECLÍNIO DA MAÇONARIA COMO INSTITUIÇÃO.
Façamos uma analise de como anda a nossa Loja. Tenhamos cuidado para que ela não se torne um clube de encontro de amigos ou apenas mais uma entidade assistencial. 
É um equívoco alardearmos que a força de uma Loja está na Coluna do Norte, considerada apenas pelo número de Aprendizes. A força motriz da Loja está realmente, em proporcionar aos Aprendizes condições para que eles se desenvolvam, tornando-se Companheiros de jornada e Mestres das futuras gerações.
Conservemos nossos valores. Sejamos tradicionalistas nas liturgias, mas progressistas diante da realidade que nos cerca. 

Fraternalmente
Sérgio Quirino
Grande Primeiro Vigilante
GLMMG

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